MAMULENGO NOVA GERAÇÃO: "As mulheres transformaram o brinquedo e aboliram passagens preconceituosas".

(Contracapa do catálogo produzido pelo Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular - RJ)

É brinquedo, mas não é brincadeira! Manter a tradição é uma grande responsabilidade e o Mamulengo Nova Geração carrega no nome essa missão. Em 11 de maio de 2008 eles decidiram criar um grupo depois de uma oficina feita pelo Mestre Zé de Vina (hoje com 78 anos), onde aprofundaram os estudos sobre manipulação de boneco, músicas e passagens de cada personagem. Óbvio que cada um trazia, desde a infância, uma vivência ao lado da brincadeira. Dez anos se passaram e o grupo, hoje, é composto por Edjane Maria (Titinha), Gilberto Lopes (Bel), Edvan Ferreira (Bila), Paulo Amorim (Paulo dos oito baixos) e Jacilene Félix (Jaci), continuam fortes na luta em prol da cultura popular.

(Primeira apresentação, Festival de Inverno de Garanhuns, 2008. Arquivo do Grupo)


O Mamulengo Nova Geração nasceu pela necessidade dos brincantes em se sustentar, gerar renda, sobreviver de arte. Daí surgiu o espetáculo e o grupo começou a circular pelas cidades, além de manter, é claro, a venda de bonecos. Sobre isto, é importante dizer que o Mamulengo Nova Geração faz parte da Associação Cultural de Mamulengueiros e Artesãos de Glória do Goitá. Juntos, são, em grande parte, responsáveis pela disseminação do Mamulengo pelo mundo, exportando o boneco para outros estados e países.

As mulheres, enfim, tomaram conta do brinquedo. Depois de séculos de exclusão, assumiram o lugar antes só destinado para os homens. O grupo iniciou com maioria feminina e isso foi uma revolução. O Mamulengo Nova Geração encarou o preconceito e colocou Titinha, Jaci, Joelma e Lucinéia dentro da brincadeira. Foi essa geração que começou a discutir a questão de gênero. Tarefa difícil para as mulheres que sempre assistiram cenas de agressão e humilhação. Elas transformaram a dramaturgia do Mamulengo, abolindo passagens homofóbicas, racistas e de submissão feminina.

(Edjane Maria (Titinha) e Lívia Falcão. Garanhuns, 2008. Arquivo do Grupo)


A trajetória do Mamulengo Nova Geração é cheia de luta, alegria e andanças. É um dos grupos mais atuantes do Estado. Comemorar esses 10 anos de existência significa dizer que manter a Tradição é importante quando se compreende que a cultura é dinâmica e esta pode e deve passar por transformações que a tornem melhor. O Mamulengo Nova Geração fez isso e quebrou o paradigma secular do machismo, fazendo justiça ao próprio nome.

Em 2018 o grupo comemora 10 anos em grande estilo. Foi aprovado o projeto: Mamulengo Nova Geração - 10 anos de Arte Popular (incentivo do Funcultura/FUNDARPE), e muito em breve o grupo iniciará uma série de atividades no Museu do Mamulengo. Vida longa as guerreiras e guerreiros que agitam a bandeira da Cultura Popular.


(O Diabo é o boneco mais vendido do artesão Bila. Foto: Pablo Dantas)

(Parte interna do Museu do Mamulengo, em Glória do Goitá/PE. É o templo do boneco e casa de muitos artistas. Arquivo do Grupo)





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