O Museólogo Gilvanildo Ferreira sai em defesa do Museu do Mamulengo.
(Foto: arquivo pessoal).
O Museólogo, Antropólogo e Produtor Cultural, Gilvanildo Ferreira, publicou em sua página pessoal uma carta aberta em defesa do Museu do Mamulengo. Diversos artistas, pesquisadores e cidadãos do Brasil prestaram apoio ao Museu e manifestaram a sua indignação nas redes sociais, após saberem do descaso da Prefeitura de Glória do Goitá frente ao Museu. Na próxima quarta-feira (11) os artesãos terão uma reunião com a Prefeita Adriana Paes para discutir o problema e tentar uma solução. O Blog MATACULTURAL está acompanhado tudo. Agora, segue a carta na íntegra:
CARTA ABERTA EM DEFESA DO MUSEU DO MAMULENGO DE GLÓRIA DO GOITÁ.
Eu, filho gloriense, orgulhoso de fazer parte de um dos municípios mais ricos no que tange a cultura popular de Pernambuco, me pego preocupado com o caminho traçado pelas últimas gestões municipais e autoridades do âmbito da cultura.
Glória do Goitá, município com forte tradição da manifestação cultural do mamulengo - registrada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como Patrimônio Imaterial do Brasil - que vem sendo transmitida por várias gerações, é oficialmente reconhecida como a Capital Estadual do Mamulengo, pela Lei Estadual Nº 15.098, de 20 de setembro de 2013. Apesar do reconhecimento legal, na prática, há uma enorme omissão e abandono das autoridades municipais, que, praticamente, não destinam nenhum incentivo técnico e financeiro à valorização e a consequente preservação dessa tão importante manifestação para a cultura gloriense.
Como forma de dar maior visibilizadade ao Mamulengo, foi criado há 16 anos o Museu do Mamulengo de Glória do Goitá, um dos poucos museus com essa temática no Brasil, transformando-se rapidamente em referência museal no país. O Museu é gerido pela Associação dos Mamulengueiros e Artesãos de Glória do Goitá, de forma heroica diante das dificuldades e do pouco ou nenhum incentivo e financiamento advindos das últimas gestões municipais. Com efeito, a municipalidade - se não todas, mas a maioria das suas gestões – não pode ser eximida da sua grande parcela de responsabilidade. A luta diuturna da Associação para a manutenção desse espaço de salvaguarda, pesquisa e comunicação da cultura mamulengueira deve ser louvada e estimulada.
Após desconsiderar a importância da manifestação cultural do Mamulengo como ativo cultural dos festejos juninos e do consequente menosprezo ao Museu do Mamulengo de Glória do Goitá, a Prefeitura Municipal decidiu, de forma no mínimo imprudente, instalar um dos Polos Culturais Juninos no prédio onde o Museu funciona, retirando tanto simbolicamente quanto fisicamente o Mamulengo das comemorações do São João. Para realizar esse Polo, primeiramente foi revogado o Decreto Municipal Nº 013, de junho de 2017, que permitia o uso do imóvel pela Associação, gestora do Museu, e posteriormente foi feito o Ofício Nº 122/2018, que obrigada a retirada de todo o acervo do Museu para outro espaço, de total responsabilidade da Associação de Mamulengueiros e Artesãos de Glória do Goitá. Tal ato pode indicar o não reconhecimento dos entes do poder público municipal enquanto responsáveis pela salvaguarda do Mamulengo como patrimônio dos concidadãos. É importante frisar que a articulação desse Ofício expõe uma estratégia anteriormente planejada para realizar esse ato considerado por mim, um cidadão da terra, mas também um Museólogo, Antropólogo e Produtor Cultural, como covarde para a história do Mamulengo Gloriense e para aqueles que mantêm, pela força dos braços, o Museu de pé. É uma atrocidade exigir que o acervo seja retirado para dar lugar a outras festividades.
No espaço do Museu foram realizadas, durante o período junino, apresentações culturais e shows com bandas que retiraram o Mamulengo do plano principal daquele que nas quase duas últimas décadas é seu espaço. Essa situação se agrava com a manutenção da exclusão do mamulengo da agenda de comemorações da Emancipação Política do município. Novamente não haverá sequer uma apresentação de Mamulengo e seu espaço será destinado a outras manifestações culturais.
Conforme pudemos notar em fotos que foram circuladas na internet, o Museu do Mamulengo de Glória do Goitá foi completamente desmontado para dar lugar ao dito "Polo Cultural" proposto pela Prefeitura Municipal para as festividades juninas. As fotos demostram a superlotação de um prédio histórico e a degradação do espaço depois das festas realizadas: o local sujo e com grande quantidade de lixo espalhado. Como o prédio é bem público, um patrimônio edificado, há claros atos lesivos à integridade desse espaço, além do desrespeito com o próprio museu, retirado para dar lugar a esses acontecimentos. E recentemente o Museu do Mamulengo também vem sendo usado como “auditório” para apresentações de projetos da Prefeitura Municipal.
Meu sentimento de indignação pode ser compartilhado pela população gloriense que não deseja essa desvalorização tanto do Museu como do Mamulengo. Venho aqui solicitar, encarecidamente, a sensibilidade dos representantes eleitos pelo povo na Prefeitura Municipal e na Câmara de Vereadores, responsáveis pelo bem público, procedimentos que possam reverter essa grave situação. O antigo Mercado de Farinha Público, e hoje Museu do Mamulengo de Glória do Goitá, deve ser urgentemente tombado, transformando legalmente em patrimônio cultural, por sua importância histórica para o município e seus cidadãos. Já o Museu, necessita da confecção e aprovação da Lei Municipal da Criação do Museu do Mamulengo de Glória de Goitá, garantindo a utilização do espaço para exposição do seu acervo e demais atividades afins para seu funcionamento e minimizando o risco de danos ao acervo por possíveis ações futuras que possam interferir na sua salvaguarda. São essas atitudes que os nossos representantes devem tomar, de valorização, reconhecimento e preocupação com a cultura e história do nosso tão amado município. Estou à disposição para ser útil no que for necessário.
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